Julgamentos internacionais Do Extermínio Armênio
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- 31 de dez. de 2013
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Após o armistício de Mudros, a conferência de paz preliminar em Paris estabeleceu a "Comissão de responsabilidades e sanções", (janeiro de 1919) que foi presidida pelo secretário de Estado dos Estados Unidos. Baseado no trabalho da comissão, vários artigos foram adicionados ao Tratado de Sèvres, e que o governo interino do Império Otomano, o sultão Mehmed VI e Damat Ferid Paşa, fossem convocados ao julgamento. O Tratado de Sèvres (agosto de 1920) planejou um julgamento para determinar os responsáveis pelos "métodos bárbaros e ilegítimos de guerra...(incluindo) crimes contra as leis e costumes da guerra e os princípios da humanidade".[100] O artigo 230 do Tratado de Sèvres requeria que o Império Otomano "entregasse para as Forças Aliadas as pessoas cuja entrega pode ser exigida por este último como responsável pelos massacres cometidos durante a vigência do estado de guerra em território que formava parte do Império Otomano em 1 de agosto de 1914".[101]
Vários políticos, generais, e intelectuais otomanos foram transferidos para Malta, onde foram mantidos por cerca de três anos, enquanto pesquisas eram feitas nos arquivos de Constantinopla, Londres, Paris e Washington para investigar suas ações. No entanto, as tentativas do tribunal de Malta para cumprir as exigências do Tratado de Sèvres nunca concretizaram-se e os detidos foram finalmente devolvidos em troca de cidadãos britânicos detidos pela Turquia kemalista.[102]
Julgamento de Soghomon Tehlirian
Em 15 de março de 1921, Mehmed Talat foi assassinado em Charlottenburg (Berlim, Alemanha), em plena luz do dia e na presença de muitas testemunhas. A morte de Talat era parte da Operação Nêmesis, codinome da Federação Revolucionária Armênia para a operação secreta na década de 1920 para matar os mentores do genocídio armênio.[103]
A julgamento do assassino, Soghomon Tehlirian, teve uma influência importante sobre Raphael Lemkin, um advogado de descendência judaica-polonesa que fez campanha na Liga das Nações para proibir o que ele chamou de "barbárie" e "vandalismo". O termo "genocídio", criado em 1943, foi cunhado por Lemkin, que foi diretamente influenciado pelos massacres de armênios durante a Primeira Guerra Mundial.[104]
Testemunhos
“Em geral, as caravanas de armênios deportados não chegavam muito longe. À medida que avançavam, seu número diminuía com consequência da ação dos fuzis, dos sabres, da fome e do esgotamento... Os mais repulsivos instintos animais eram despertados nos soldados por essas desgraçadas criaturas. Torturavam e matavam. Se alguns chegavam a Mesopotâmia, eram abandonados sem defesa, sem víveres, em lugares pantanosos do deserto: o calor, a umidade e as enfermidades acabavam, sem dúvida, com a vida deles.[105]”
Uma viajante alemã escutou o seguinte de uma armênia, em uma das estações do padecimento de um grupo de montanheses armênios:[106]
“Por que não nos matam logo? De dia não temos água e nossos filhos choram de sede; e pela noite os maometanos vêm a nossos leitos e roubam roupas nossas, violam nossas filhas e mulheres. Quando já não podemos mais caminhar, os soldados nos espancam. Para não serem violentadas, as mulheres se lançam à água, muitas abraçando a crianças de peito.”
O governo cometeria ainda outra vileza: a maioria dos jovens armênios mobilizados ao começar a guerra não foram enviados à frente, mas integraram brigadas para construção de caminhos. Ao terminar o trabalho todos eles foram fuzilados por soldados turcos.[89]
Jacques de Morgan assim se refere às deportações, aos massacres e aos sofrimento padecidos pelos armênios:[107]
“Não há no mundo um idioma tão rico, tão colorido, que possa descrever os horrores armênios, para expressar os padecimentos físicos e morais de tão inocentes mártires. Os sobreviventes dos terríveis massacres, todos testemunhas da morte seus entes queridos, foram concentrados em determinados lugares e submetidos a torturas indescritíveis e a humilhações que os faziam preferir a morte.”
A diplomata Gertrude Bell, apresentou o seguinte relatório após ouvir o relato de um soldado otomano capturado:
“O batalhão deixou Alepo em 3 de fevereiro e chegou a Ras al-Ain em 12 horas... aproximadamente 12.000 armênios foram concentrados sob a tutela de algumas centenas de curdos... Estes curdos eram chamados de "policiais" mas eram, na realidade, meros carniceiros; bandos deles foram publicamente ordenados a tomar grupos de armênios, de ambos os sexos, para destinos diversos, mas tinham instruções secretas para matar os homens, crianças e mulheres... Um desses "policiais" confessou ter matado sozinho 100 homens armênios... as cisternas vazias do deserto e cavernas também foram preenchidas com cadáveres...[61]”
O povo armênio não desapareceu quando estava nos desertos da Mesopotâmia: as mães armênias ensinavam a ler aos seus filhos desenhando as letras do alfabeto armênio na areia.[89]
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